sábado, 12 de fevereiro de 2011

Subsídios para a escola dominical.




Lição 7 – 1º Trimestre de 2011



Texto Bíblico: Atos 6.1-7


Texto Áureo: At 4.35

Extraído do blog: Ensino dominical Aqui


O capítulo 6 e versos 1-7, nos relata um problema surgido na comunidade cristã em Jerusalém, que provocou uma murmuração (gr. goggysmós). As ofertas eram depositadas aos “pés dos apóstolos” (At 4.34-37; 5.1-2), que com o crescimento dos discípulos começaram a ter dificuldades na administração do trabalho social, visto que estavam divididos entre este ministério, o da palavra e a oração.


A murmuração consistia no fato das viúvas gregas serem desprezadas na distribuição diária dos donativos. Boor (2003, p. 104) esclarece que “Na Antiguidade simplesmente não havia uma possibilidade de ganho próprio para as mulheres. Se uma viúva não tinha filhos que providenciassem se sustento, ela se encontrava em grande aflição”. Conforme Kistemaker (2006, p. 298):


O Novo Testamento, para não dizer o Antigo, tem muito a dizer acerca da posição e dos direitos da viúva em Israel. Muitas viúvas da Palestina do século 1º enfrentaram a pobreza, mesmo que as autoridades judaicas houvessem feito provisões para o seu sustento (por exemplo, Mc 12.42-44). Dentro da igreja prevalecia o princípio de que não deveria haver nenhum carente entre aqueles que criam. Note-se que Tiago categoriza o cuidado pelos órfãos e viúvas como parte da religião que é pura e sem mancha (Tg 1.27). Paulo também prescreve regras e ordenação: para viúvas que ralmente necessitam de sustento diário; para aquelas que devem ser sustentadas pelos filhos e netos; para viúvas que têm 60 anos ou mais; para viúvas mais jovens que devem casar-se; e para mulheres crentes que devem ajudar a sustentar as viúvas (1 Tm 5.3-16).


Uma grande virtude da liderança é a capacidade de ouvir críticas sem ficar melindrado. Há líderes que não suportam críticas e questionamentos, mesmo quanto são feitos com respeito e com as melhores das intenções. Os apóstolos não ficam melindrados, e diante das críticas agem de forma objetiva, convocando a comunidade para juntos buscarem solução para o problema (BOOR, idem). Algo digno de nota em Atos é a constante participação de toda comunidade cristã em grandes decisões (1.15-26; 6.1-6; 15.6, 12, 22).


Sempre que não atentamos para as prioridades do ministério que recebemos do Senhor, estaremos passíveis de cometermos falhas, mesmo que involuntárias. Assim como no episódio aqui descrito, nos dias atuais há muitos líderes que deveriam estar ocupados com a palavra e com a oração, mas estão envolvidos com “coisas” que não deveriam ser prioritárias em sua atividade ministerial, e que deveriam ser delegadas para outros. Em meu livro Estudos Bíblicos e Escritos (2010, p. 113-114), escrevi sobre a “coisificação do ministério pastoral”, e reproduzo abaixo algumas questões abordadas:


Um fenômeno tem preocupado aqueles que de maneira crítica, lançam seus olhares sobre a prática pastoral na igreja evangélica brasileira. Falo da “coisificação” do ministério pastoral. Pastor virou “gestor”. O pastor não dedica mais o seu tempo para cuidar de pessoas. As coisas e os negócios da igreja se tornaram prioridades. O tempo que deveria investir em oração e na leitura devocional da palavra (relação pessoal de comunicação com Deus), e na visitação (relação pessoal de comunicação com os santos), é empreendido agora na administração dos negócios, no acompanhamento das contas, nas visitas às construções e em outras vária atividades impessoais. [...] Penso ser também uma questão de reprodução de um modelo centralizador e clerical, onde o pastor é o detentor de todos os saberes e habilidades, o único apto, capaz e vocacionado para o exercício com excelência de todos os dons espirituais e ministeriais. Pobre e medíocre visão. Precisamos de um ministério pastoral mais humanizado e menos coisificado. Para isto é necessário descentralizar as tarefas e rever as prioridades do ministério pastoral no atual contexto da igreja evangélica brasileira.


Sobre isto escreveu Stott (2003, p. 135-136):


Os apóstolos não estavam ocupados demais para ministrar; eles estavam preocupados com o ministério errado. O mesmo acontece com muitos pastores. Em vez de se concentrarem no ministério da palavra (que inclui pregar para a congregação, aconselhar pessoas e treinar grupos), eles se tornam superatarefados com a administração. às vezes, a culpa é do pastor (que quer segurar todas as rédeas em suas próprias mãos) e às vezes a culpa é do povo (que exige que o pastor seja um factótum). Em ambos os casos, as consequências são desastrosas. O nível da pregação e do ensino caem, já que o pastor tem pouco tempo para se dedicar ao estudo e à oração.


Costumo afirmar que é notório nos dias atuais a inversão dos papéis, ou seja, temos pastores fazendo a tarefa dos diáconos, e diáconos realizando a tarefa dos pastores.


A INSTITUIÇÃO DO DIACONATO


Diante do problema, a solução encontrada pelos apóstolos foi a de convocar os discípulos para que escolhessem sete homens com as qualidades necessárias para assumirem a tarefa da distribuição diária (6.3). Estes homens deveriam ter testemunho (martyrouménous), ser cheios do Espírito (pléreis pneúmatos) e de sabedoria (sophías). Boor (Ibidem, p. 105) comenta que: “Os apóstolos não dizem por que devem ser justamente ’sete’. Contudo, nas comunidades judaicas a diretoria local geralmente era formada por sete homens, os quais eram chamados ‘os sete da cidade’.


Embora o termo diáconos (gr. diaconoi) não apareça no texto, muitos estudiosos entendem que aqui foi instituído o diaconato.


É relevante também a observação que Stott (idem) faz, quando comenta acerca da importância deste trabalho social (dos diáconos) em relação ao trabalho pastoral (apóstolos):


Nenhum ministério é superior ao outro. Pelo contrário, ambos são ministérios cristãos, ou seja, meios de servir a Deus e ao seu povo. Ambos exigem pessoas espirituais, “cheias do Espírito”, para exercê-los. [...] A única diferença está na forma que cada ministério assume, exigindo dons e chamados diferentes.


Marshall (2008, p. 123), escrevendo sobre esta questão, afirma que: “Não se sugere necessariamente que servir às mesas está num nível mais baixo do que as orações e o ensino; a ênfase dirige-se ao fato de que a tarefa à qual os Doze foram especificamente chamados era de testemunho e evangelização.”


Se esta verdade e realidade fosse entendida nos dias atuais, muitos diáconos louvariam a Deus pelo que fazem, em vez de viverem reclamando, e de buscarem atividades e posições para as quais não foram vocacionados. Por outro lado, muitos presbíteros, evangelistas e pastores deixariam de olhar para os diáconos com um ar arrogante de superioridade ministerial. Tanto para o serviço ou ministério diaconal, quanto para o serviço ou ministério pastoral, é utilizado o termo grego diaconía (v. 1, 4).


A ASSISTENCIA SOCIAL NOS DIAS ATUAIS


Sempre que o tema “Ajuda aos Necessitados” é abordado, observamos algumas reações e atentamos para alguns fatos no meio evangélico brasileiro. São eles:


1. Um Grande número de alunos, professores, dirigentes e superintendentes de EBD , obreiros e membros em geral da igreja questionam as poucas ações concretas nesta área (chamada de “social”);


2. Líderes de igrejas, aproveitando o tema em evidência, resolvem fazer campanhas de doações e socorro aos necessitados, para não muito tempo depois abandonarem a prática;


3. Se percebe que muitas igrejas nunca vão além da simples distribuição aleatória de cestas básicas, sem nenhum levantamento das reais necessidades dos beneficiários;


4. Uma ênfase num certo socialismo ou comunismo cristão, fruto de uma interpretação equivocada do tema “Comunidade dos Bens” é dada. Interessante, é que os que defendem teoricamente esta ideia não a coloca em prática, partilhando todos os seus bens com os necessitados;


5. Irmãos, individualmente ou em “grupos”, diante do descaso da “instituição” ou da “comunidade cristã” com a ajuda aos necessitados, acabam se achando no direito de administrarem os próprios dízimos e ofertas, não levando em consideração as recomendações (ou determinações) da liderança;


6. Igrejas se mobilizam para prestar socorro às vítimas de grandes catástrofes naturais em outras regiões, mas no seu dia a dia se esquecem de socorrer os seus necessitados (domésticos na fé), e os que vivem em situação de miséria na localidade onde está estabelecida;


7. Para dizer que socorrem os necessitados, algumas igrejas afirmam manter hospitais, escolas, creches, orfanatos e abrigos de idosos funcionando. Acontece que em alguns casos, as condições de atendimento e assistência são muito precárias. As pessoas lá atendidas sofrem de um grande descaso, desumanização e maltratos;


8. É afirmado ainda por alguns, que a igreja faz o trabalho social muito bem, mas sofre por não divulgá-lo. Entendo que pelo menos os membros deveriam tomar conhecimento das ações em favor dos necessitados;


9. A calamidade dos necessitados se acentua diante da ostentação e da vida regalada de algumas lideranças, através da aquisição e exibição dos símbolos capitalistas de “poder” e “status ministerial”. Na versão e lógica “espirituosa” deste capitalismo selvagem (Teologia da Prosperidade e da Vitória Financeira), quanto mais o pastor ou líder ficar rico (ou pelo menos parecer), mais demonstrará o quanto o seu ministério é abençoado por Deus. Obviamente esta lógica acaba trazendo problemas para alguns líderes de igrejas na atualidade. Por exemplo, podemos citar a necessidade de um pastor precisar de “seguranças”. Tal necessidade é resultado direto da ostentação já citada. Citamos ainda o receio que alguns possuem de terem seus filhos ou parentes sequestrados. Não consigo imaginar Jesus, Pedro, Paulo, João, Tomás de Aquino, Agostinho, Lutero, Calvino e outros ícones da fé precisando de seguranças particulares. Alguma (ou muita) coisa está errada. Viver dignamente do evangelho foi trocado por viver esplendorosamente do evangelho;


10. É interessante também afirmar, que diante do exposto no ponto acima, dentro de um mesmo ministério, há líderes que abusam das regalias enquanto outros passam extrema necessidade. A ideia, volto a deixar claro, não é de um socialismo ou comunismo ministerial cristão, falo sim (pois há uma série de fatores subjetivos aqui envolvidos) da necessidade de diminuir a distância “econômica”, promovendo um viver digno para todos.


Obviamente, há um bom número de igrejas que fazem um trabalho relevante e exemplar de ajuda aos necessitados.


Não vai adiantar muita coisa (ou nada) tratarmos deste tema, sem refletir sobre a nossa condição (cada um deve assumir a sua responsabilidade), sem discussão, sem propostas de mudanças, sem planos e ações concretas.


Saber sobre e perceber como as coisas estão não é o suficiente. Necessário se faz mobilizar-se para que o nosso discurso religioso e piedoso (eloquência verbal) se torne carne e habite entre nós.


“Meus irmãos, qual é o proveito, se alguém disser que tem fé, mas não tiver obras? Pode, acaso, semelhante fé salvá-lo? Se um irmão ou uma irmã estiverem carecidos de roupa e necessitados do alimento cotidiano, e qualquer dentre vós lhes disser: Ide em paz, aquecei-vos e fartai-vos, sem, contudo, lhes dar o necessário para o corpo, qual é o proveito disso? Assim, também a fé, se não tiver obras, por si só está morta.” (Tg 2.14-17)


Quando as coisas estão devidamente ordenadas e organizadas na igreja local, o resultado natural é o crescimento da palavra através do aumento de sua proclamação e ensino, e como resultado esperado, acontece a multiplicação do número de discípulos.


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS


BOOR, Weiner de. Atos dos Apóstolos. Curitiba-PR: Esperança, 2003.


GERMANO, Altair. Estudos Bíblicos & Escritos. Recife-PE: Edição do Autor, 2010.


KISTEMAKER, Simon. Atos. São Paulo: Cultura Cristã, 2006. v.1


MARSHAL, I. Howard. Atos: Introdução e comentário. São Paulo: Vida Nova, 1982.


STOTT, John R. W. A mensagem de Atos: Até os confins da terra. São Paulo: ABU, 2003.


WILLIAMS, David J. Novo Comentário Bíblico Contemporâneo: Atos. São Paulo: Vida, 1996.









quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011